Discurso da presidente do IPST no Dia Nacional do Dador de Sangue | 27 de Março de 2022

Comemora-se hoje, 27 de março, o Dia Nacional do Dador de Sangue. O IPST com esta iniciativa pretende uma vez mais homenagear todos aqueles que, direta ou indiretamente, estão e estiveram envolvidos na dádiva de sangue e componentes sanguíneos.

Gostaríamos no entanto de dedicar este evento não só aos Dadores como também aos Doentes, às Federações e Associações de Dadores Benévolos de Sangue, a todas as organizações da sociedade civil que colaboram com o IPST no âmbito da promoção da dádiva e da literacia em saúde.

A dádiva de sangue é um gesto essencial para a Vida, é um gesto essencial para que todos os dias, nos hospitais portugueses, seja possível assegurar o tratamento de muitos doentes.

Desde 2019 que não era possível ao Conselho Diretivo do IPST comemorar este dia presencialmente. O ano de 2020 trouxe-nos um enorme desafio, a pandemia COVID-19, e embora tenhamos procurado minimizar o seu impacto com planos de contingência ajustáveis à realidade, sempre com o foco na resposta à necessidade dos doentes, a dádiva e a transfusão de sangue e componentes sanguíneos sofreram em 2020 uma redução de 7%.

No entanto a solidariedade para com o próximo sobrepôs-se às contingências e em 2021, nos três Centros de Sangue e Transplantação do IPST (que representam 60% da colheita a nível nacional), as dádivas de sangue aumentaram 7,8% relativamente a 2020 e 1,7% em relação a 2019, quando ainda não se tinha instalado a situação pandémica por COVID-19.

Durante os anos de 2020 e 2021 as reservas de sangue mantiveram sempre níveis que permitiram dar resposta às necessidades existentes.

É pois tempo de agradecer. Como se agradece a Vida? Como se agradece a possibilidade de um futuro? Como se agradece a possibilidade de continuar a sonhar?

Em Portugal a dádiva de sangue é um gesto voluntário, altruísta e não remunerado e agradecemos publicamente, neste dia, a todos aqueles que, sem nada receberem, altruisticamente e benevolamente, ajudam a dar vida à vida, ajudam a salvar vidas.

Precisava de uma palavra muito maior que Obrigada para agradecer tanto carinho e a dádiva da Vida, não a tendo encontrado, em nome do IPST e de todos os doentes, o meu enorme Muito Obrigada a todos os dadores.

Deixamos também os nossos agradecimentos às Federações e Associações de Dadores de Sangue, aos Clubes de Futebol e aos Mensageiros da Dádiva representados este ano pela Jornalista Andreia Vale.

O Desporto e os muitos espetadores das atividades desportivas revelaram-se uma sinergia muito necessária para o recrutamento de novos Dadores de Sangue. Assim, gostaria de relevar a assinatura de protocolos entre o IPST e os vários Clubes aqui representados e a sua importância estratégica nos períodos mais críticos para a dádiva de sangue.

Deixo ainda uma palavra de agradecimento a todos os profissionais que tornam possível a dádiva e a transfusão em Portugal, ao seu trabalho, empenho e continuada dedicação! É para mim um enorme privilégio ser uma pequena peça desta enorme Rede de Solidariedade!

Nestes últimos dois anos o IPST, teve sempre como objetivos a segurança das pessoas dadoras e recetoras, o aproveitamento do sangue colhido e a sustentabilidade do sistema.

Assim gostaria de realçar, no âmbito do trabalho realizado, o estudo clínico relativo a Plasma Convalescente, a continuidade em pleno período pandémico do Programa Estratégico para Aproveitamento do Plasma Nacional, a atualização da Norma 009/2016 da Direção Geral da Saúde, a revisão e atualização do Manual de Triagem Clínica e do questionário para a dádiva de sangue bem como a implementação do Programa de Gestão de Sangue do Doente nos hospitais do Serviço Nacional de Saúde.

A avaliação das pessoas candidatas a dádiva de sangue baseia-se agora na avaliação individual do risco relacionado com os seus comportamentos. Na Europa para além de Portugal, apenas Espanha, Itália, Áustria e Letónia (que seja do nosso conhecimento) tinham já em vigor esta avaliação. O Reino Unido atualizou os seus critérios a 14 de junho de 2021, os Países Baixos em Setembro e a França já em março de 2022.

Associado á atualização da Norma e do Manual de Triagem Clínica está em curso a formação sobre elegibilidade de pessoas candidatas à dádiva destinada a profissionais de saúde, com mais de 300 inscritos. Está também disponível na plataforma NAU o curso, com a mesma designação, destinado á população em geral, particularmente aos potenciais candidatos à dádiva de sangue, com cerca de 1300 inscritos.

Agradecemos pois às organizações da sociedade civil defensoras dos direitos das pessoas LGBTI pelo enorme espaço de discussão e crescimento e pela sua participação ativa em todas as iniciativas formativas.

Para além de agradecer queremos ainda, neste dia, aumentar a consciência pública sobre a necessidade da dádiva de sangue regular e encorajar os jovens a aderir a esta causa.

Quantas são e quem são as pessoas dadoras? Em 2020, última informação disponível a nível nacional, realizaram dádivas de sangue 188 601 pessoas e mantinha-se a tendência verificada desde 2008 da diminuição do número de dádivas e de pessoas dadoras. A proporção de dadores de primeira vez sofreu no entanto, nesse ano, uma inversão relativamente à tendência verificada nos últimos anos, com um aumento de dadores de primeira vez de 1,9% em relação ao ano anterior.

As alterações demográficas, com uma população cada vez mais envelhecida, e as migrações têm naturalmente impacto no número de dadores. De acordo com os dados preliminares do Census de 2021, para além de uma redução global de cerca de 2%, verifica-se em Portugal um aumento da população com 65 e mais anos e mantêm-se os fluxos migratórios especialmente da população em idade ativa.

No que se refere à distribuição etária dos dadores, a média de idades tem-se mantido estável ao longo dos anos, mantendo-se a tendência verificada desde 2012 do aumento da frequência relativa de pessoas dadoras nos grupos etários dos 18 aos 24 anos e dos 45 aos 65 anos, com uma diminuição sustentada dos dadores dos grupos etários dos 25 aos 44 anos, isto é das pessoas em idade ativa.

Importa pois olhar o futuro com redobrado ânimo, preparar o Regresso ao Futuro. Para o futuro pretendemos corrigir os desequilíbrios demográficos com recurso à sensibilização das camadas mais jovens da população. Considera-se, assim, de extrema importância promover a cidadania participativa e a dádiva de sangue junto dos jovens e dos jovens adultos, grupos populacionais cheios de iniciativa, criatividade e entusiasmo, tornando-se necessário a adaptação às novas dinâmicas da vida social e encontrando novos meios e linguagens que promovam a adesão a esta causa.

Neste contexto o IPST convidou os representantes do movimento associativo, cujo conhecimento de proximidade é tão importante; a apresentar uma comunicação sobre as “Novas tecnologias e redes sociais na Promoção da Dádiva de Sangue junto dos jovens”, apresenta hoje a nova app para o Cartão Nacional de Dador da responsabilidade da Agência para a Modernização Administrativa e homenageia também hoje os jovens, entre os 18 e os 20 anos, que mais dádivas realizaram, no biénio 2020/2021 na nossa instituição.

Por último deixo-vos um convite e um desafio. Embora a situação da reserva estratégica nacional esteja neste momento estável, reitero o convite para que realizem as vossas dádivas de forma regular e faseada, uma vez que só assim será possível garantir a distribuição constante de unidades de sangue aos hospitais.

Deixo-vos ainda, a todos, o desafio de continuarem a ser arautos da esperança e cidadania participada. Precisamos da vossa força solidária!

Precisamos de: + Pessoas Dadoras de Sangue; + Jovens; + Dádivas. Os doentes agradecem, + Sangue, + Vida.

Maria Antónia Escoval, Presidente do Conselho Diretivo do IPST,IP